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sexta-feira, 31 de outubro de 2003

Dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama 


Pode parecer extemporâneo que escreva sobre o Dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama no dia seguinte à sua comemoração. Bem, a verdade é que, entre não escrever de todo e escrever algumas horas depois desse dia ter terminado, optei pela segunda hipótese. E penso que a minha opção não foi totalmente descabida.
Todos os dias devem ser dias de prevenção desta doença que, uma vez diagnosticada precocemente, tem uma grande probabilidade de cura. Estou certa que muit@s de nós conhecem pessoas que já sofreram desta doença e que conseguiram lutar contra ela. Outr@s, nem por isso, e sucumbiram. Bom, a verdade é que ela está aqui tão perto, tão ao nosso lado, que jamais deveremos esquecer a possibilidade de um dia nos bater à porta. É por isso que entendo que os alertas nunca, nunca serão em demasia.
É importante o auto-exame da mama (preferencialmente 10 dias após o início do período menstrual), a realização de mamografias, a consideração dos factores de risco (como ser mulher - ainda que os homens também possam padecer deste tipo de cancro - e o envelhecimento), uma alimentação equilibrada e hábitos saudáveis, enfim, uma série de cuidados que deverão ser frequentes, para que não tenhamos surpresas desagradáveis.
Resta-me informar, para quem não saiba, que do dia 30 de Outubro a 2 de Novembro vai decorrer o Peditório Nacional a favor da Liga Portuguesa Contra o Cancro. É importante que tod@s contribuamos, até porque os donativos permitem usufruir de benefício fiscal.

Entre muitos, estes são alguns dos sites que podem ser consultados:
Site do Cancro da Mama
Liga Portuguesa Contra o Cancro
Laço Rosa
Aborto e Cancro da Mama

É bem possível que entre @s noss@s leitor@s existam mulheres e homens que lutam contra esta doença. Para el@s, aqui deixamos uma palavra de incentivo e coragem, de resistência, esperança e vitória.

Um abraço.

quinta-feira, 30 de outubro de 2003

O Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça e a Lei... Memórias dos tempos idos! 


Como já devem ter reparado adoro escrever… muito!... Não fui de facto bafejada com uma dose, por muito mínima que fosse, de poder de síntese… Em nada: nem na escrita, nem no amor, nem na vida!... Gosto de escrever ao sabor do pensamento, sem qualquer pré-meditação, sem saber que palavra se segue à outra… Gosto de me transcender através da escrita, de ser surpreendida pelas vírgulas, reticências e exclamações que me vão saindo dos dedos, como se eu fosse uma mera espectadora daquilo que escrevo…

Mas não é assim quando o assunto é jurídico. Aí, também as palavras se vestem de fato e gravata e as reticências e exclamações dão lugar ao formalismo das frases curtas e dos pontos finais. Sei que as questões jurídicas, como todas as questões sérias em geral, também podem merecer um tratamento irónico, divertido e não menos incisivo por isso, no entanto, por defeito meu não sei discutir de outro modo estes assuntos.

Por isso, aviso já quem me leia que o post que se segue será chato, sério, cinzento e sisudo. Só o escrevo porque simplesmente não posso, por imposição da consciência, ficar indiferente à questão. Por isso cá vai:

A – DOS FACTOS

1. O Público noticiou há dias que o Supremo Tribunal de Justiça proferiu um acórdão em que se pronuncia sobre a homossexualidade nos seguintes termos:

"São substancialmente mais traumatizantes por representarem um uso anormal do sexo, condutas altamente desviantes, contrárias à ordem natural das coisas, comprometendo ou podendo comprometer a formação da personalidade e o equilíbrio mental, intelectual e social futuro da vítima (…) É mais livre e prematuro o consentimento de adolescentes para a a prática de actos heterossexuais, sendo mais tardio o processo genético de formação de vontade de adesão dos adolescentes para a prática de actos homossexuais".

B – DAS QUESTÕES QUE AQUI SE COLOCAM

1. O acórdão assim proferido deverá ser analisado de duas perspectivas:

1.1. Da perspectiva substancial, o que significa um cuidado estudo das afirmações efectuadas nessa sede;
1.2. Da perspectiva legislativa, a exigir uma reflexão sobre o regime legal que terá servido de ponto de partida a tal acórdão.

C – DAS AFIRMAÇÕES PROFERIDAS NO ACÓRDÃO

1. Quanto às afirmações proferidas no acórdão em análise sobre a homossexualidade, a mera remissão para o comunicado à imprensa que as associações lgbt nacionais prontamente emitiram, será suficiente para demonstrar como enfermam de vários vícios.

2. Haverá apenas a acrescentar que os juízes nacionais estão sempre obrigados a fundamentar as suas decisões em provas, jurisprudência ou doutrina e, enquanto não tivermos conhecimento de quais os documentos mobilizados pelos juízes para proferirem o acórdão (acaso terão decidido com base em algum parecer?) , não será possível indagar qual a fonte destas falácias.

D – DA LEI

1. Na origem deste acórdão e da discórdia por ele gerado está o artigo 175.º do Código Penal português onde, sob a epígrafe “Actos homossexuais com adolescentes”, se estabelece que “Quem, sendo maior, praticar actos homossexuais de relevo com menor entre 14 e 16 anos, ou levar a que eles sejam por este praticados com outrem, é punido com pena de prisão de 2 anos ou com pena de multa até 240 dias”.

2. Como facilmente se verificará, para que os pressupostos deste tipo legal de crime estejam preenchidos têm que se verificar as seguintes condições;
2.1. A existência de uma pessoa (agente) - homem ou mulher - que seja maior (actualmente, a maioridade em Portugal é alcançada aos 18 anos);
2.2. A prática de actos homossexuais de relevo (aqui o “relevo” significa uma de três coisas: penetração, coito anal ou/e sexo oral);
2.3. Que essa prática seja levada a cabo com menor entre os 14 e os 16 anos (vítima).

3. No entanto, como bem se salienta no Comentário Conimbricense do Código Penal, Parte Especial, Tomo I, 1999, Coimbra Editora, sob a direcção do Prof. Doutor Jorge de Figueiredo Dias (edição de Coimbra, lá está!) este artigo revela-se totalmente obsoleto, fora de época e não é, de modo algum, a forma mais adequada de se proteger o bem jurídico aqui em causa (cit.: parece seguro que o direito penal português do futuro deve caminhar no sentido de não discriminar as relações homossexuais, nomeadamente exigindo também que o agente abuse da inexperiência do menor e prevendo que o tipo legal de actos sexuais com adolescentes também seja preenchido quando o agente pratique actos sexuais de relevo que não a cópula, o coito anal ou o coito oral. Mas preferível será sempre a solução de haver um só tipo legal de crime que, não distinguindo a natureza homossexual ou heterossexual dos actos sexuais de relevo, proteja o bem jurídico que merece tutela, ou seja, o livre desenvolvimento do menor, no que à sua esfera sexual diz respeito - sublinhado nosso.).

4. Com efeito, se analisarmos as legislações europeias, verificamos que na Alemanha o crime de homosexuelle Handlugen foi revogado em 31 de Maio de 1994 e que tanto em Espanha como em França recentemente entraram em vigor novos Códigos Penais que não distinguem os actos sexuais que legitimam a criminalização em função da natureza dos mesmos, não existindo o crime de homossexualidade com menores.

5. É óbvio que não está aqui a defender que deixe de ser considerado crime aquela situação em que o velhote alicia o adolescente para a prática de actos sexuais em troca de bombons, rebuçados ou bilhetes para jogos de futebol e consuma o acto sexual de relevo, uma vez que, sendo a moldura penal inferior a três anos, a tentativa não é punível…

6. Sem dúvida, essas situações em que os maiores abusam da inexperiência destes jovens (devendo aqui ler-se inexperiência não apenas como inexperiência sexual mas no sentido lato de uma ingenuidade/puerilidade que os jovens não são obrigados a perder mal passem a barreira dos 14).

7. Errado não é, portanto que o Código Penal português puna situações em que maiores tentam ludibriar e levam menores a praticarem actos sexuais de relevo consigo… Errado é “apenas” que se discriminem aqui os homossexuais, gerando-se situações que, levadas ao extremo, poderão significar que os pais de um miúdo de 15 anos que namore com um de 18, acusem este de cometer o crime de actos homossexuais com adolescentes, apesar de ambos se amarem e ter sido, inclusivamente, o rapaz de 15 anos a cativar o de 18!

8. Em 1997, quando se discutiam as alterações ao Código Penal português, a Proposta de Lei 80/VII de 1997 vinha exigir a distinção entre homossexuais e heterossexuais, isto é, entre os pressupostos legais previstos nos artigos 175.º e 174.º, respectivamente, passando a exigir-se também para a prática dos actos homossexuais com adolescentes que se estivesse efectivamente a “abusar da inexperiência do adolescente". No entanto, tal proposta não foi aprovada.

9. E assim continuamos com uma lei completamente discriminatória…

10. … E violadora de um dos princípios basilares da União Europeia (art. 13.º do Tratado da C.E.E.)…

11. … Até que o governo decida alterar a legislação neste ponto específico… ou as associações de homossexuais se lancem na luta pela abolição deste artigo, de modo ordeiro e calmo… Necessariamente com um salto a Bruxelas e às instituições comunitárias pelo meio. (Espero que agarrem a dica!)

Enfim, não queria, porque não posso, pronunciar-me sobre o acórdão em questão… No entanto, como cidadã atenta não posso deixar de lamentar que, “nestes tempos que correm” alguém ainda esteja convencido de que as frases proferidas naquele acórdão são verdadeiras… principalmente quando tais frases emanam de mentes verdadeiramente esclarecidas!

A Bruxelas já!... Antes que novas surpresas surjam...

quarta-feira, 29 de outubro de 2003

Contrastes! 


Sexta-feira, dez e meia da noite. Estávamos atrasadas… Como sempre! Estamos sempre atrasadas! Ou porque o despertador não desperta, ou porque o trabalho aperta, ou porque os carros decidiram sair todos à rua a esta hora… “E caramba, onde está o raio da rotunda?”.
Tínhamos combinado jantar pela primeira vez em casa de um casal amigo, uma delas fazia anos e não queríamos, de modo algum, deixá-las à espera. Mas um cliente que apareceu à última da hora atrasou-nos os planos e o trânsito e as dificuldades que ainda temos em distinguir, nesta cidade Invicta, que ruas vão dar aonde fizeram o resto!

Quase duas horas e muitos telefonemas a pedir indicações volvidos, lá nos sentámos à mesa! O bacalhau com natas estava divinal e a simpatia das anfitriãs, aliada à boa disposição que a Mente Assumida sempre transporta consigo, criaram as condições necessárias para que o stress daquele dia desse lugar a um início de noite bem agradável. Falámos de nós, da vida, dos anos, da telenovela… e, trocámos receitas, histórias e anedotas. E a noite lá foi avançando…

O bacalhau, apesar de servido na dose certa, não foi suficiente para acompanhar a voracidade das conversas e, porque ficámos com vontade de mais, aceitámos o convite para um passeio até ao novo bar lgbt do Porto, o “Gemini’s”.

Só quando entrei dei por mim a pensar que era a primeira vez que estava num bar assumidamente lgbt. É verdade que já tinha estado no "Piccadilly Pub", mas o Picca era diferente, era um bar mais pequeno onde a simpatia de quem nos recebia fazia esquecer qualquer adjectivo que a ele pudesse estar associado. Não era um bar lésbico, gay ou friendly… era simplesmente um bar de gente simpática, onde ao fim de duas visitas, já sentíamos que estávamos a construir amizades… Como as desta sexta-feira…

A primeira sensação foi estranha, não vou negar. Não vou negar que, mal entrei, não consegui evitar que uma palavra me invadisse o espírito: “gueto”… Não vou negar também que, ao cruzarmo-nos com um rapaz de calções brancos e justos e t-shirt não menos justa e branca, eu e a Mente Assumida não conseguimos evitar um olhar cúmplice…E como sabe bem ter alguém que sabe ler nos olhos aquilo que as palavras não dizem…

Como sabe bem falar abertamente da nossa vida… toda… quebrar barreiras… colocar no off por uns instantes a parede que secciona o cérebro de tod@s aquel@s que, como nós, vivem uma vida dupla e têm que distinguir, a cada novo milésimo de segundo, o que é ou não dizível, o que é ou não risível, o que pode ou não ser visível…
Aconteceu ali, naquela noite, uma queda (ainda que ténue e efémera) do Muro (tão ou mais imponente e austero que o de Berlim) que divide a vida em: profissional, familiar, amorosa… etc., etc., etc…. Sem que nenhuma se possa interceptar… Descobri ali que, afinal, é possível falar da Mente Assumida e de trabalho, de livros e ideais, de músicas e filmes, sem pensar nas consequências… sem máscaras… só Verdade!

E que bem que sabe ser assim Verdade!… Sem ter que inventar histórias, farsas e teatros a cada novo instante, só para que dos lábios não se solte aquilo que realmente apetece dizer!...

Entretanto o rapaz dos calções brancos aproximou-se da nossa mesa. Conhecia algumas das pessoas que nos acompanhavam… De repente compreendi que algo em mim estava errado… Incrustadas tinha ainda muitas ideias feitas, conservadoras e inevitavelmente discriminatórias… E porque só as mentes pouco iluminadas não corrigem os seus erros, o rapaz deixou de ser o rapaz dos calções brancos para passar a ser mais uma pessoa que ali estava a divertir-se… Simplesmente… E simpático, por sinal… A palavra “gueto” deixou de fazer sentido e deu lugar à compreensão do verdadeiro significado da palavra “tolerância”, num espaço onde todas as diferenças são aceites, sem olhares de lado, sem comentários… sem discriminação!

Confesso que foi estranho para mim sentir-me tão bem naquele espaço. Eu que nunca gostei de saídas à noite, bares ou discotecas, senti-me ali como se estivesse em casa… senti-me como nunca me senti em nenhum outro bar… Talvez porque até sexta-feira sempre as minhas saídas nocturnas eram sinónimo de paragens em bares hetero, com rapazes hetero e a sua canção do engate desafinada, muito pouco original e, como bem calculam, infinitamente entediosa…

Quando a porta do “Gemini’s” se fechou atrás de nós, as mãos se soltaram e o frio da noite nos recordou que regressávamos ao “mundo real”, tive a estranha sensação de ouvir as pancadas de Molière a avisarem que a peça iria de novo começar…


Noite seguinte. Sábado. Coimbra. Latada.
Porque quem um dia foi estudante na mais velha Academia do País jamais se separa dela não podíamos faltar à festa.

… Vinte e quatro horas depois de termos entrado no “Gemini’s” entravamos no Estádio Universitário...
Centenas de pessoas entregavam-se ao mosh ao som dos Blasted Mechanism… Em cima das bancas das bebidas caloiras e doutoras ofereciam-se em gestos lascivos a caloiros e doutores que não se faziam de rogados (e vice versa)… assim, sem mais…

A chuva fez com que uma multidão se condensasse debaixo da tenda… Os cinco centímetros de privacidade britânicos eram impossíveis… Fingi não me aperceber dos apalpões muito pouco subtis por parte dos futuros doutores deste país… Não vale a pena discutir com o álcool!...

Os bons momentos passados na noite anterior tornavam inevitável a comparação: depois de uma noite genuína, em que pudemos ser nós próprias sem nos sentirmos observadas e em que o nosso espaço foi respeitado, estarmos ali sujeitas às investidas de homens que confundiam um simples olhar com um convite para o que a sua imaginação bem entendesse, aos excesssos do álcool e a assistir a espectáculos dignos de figurarem nas páginas mais “hard core” da história da pornografia, tornou-se ainda mais insuportável…

A pergunta era inevitável (e, viemos a saber mais tarde, quando o comentámos, pairava na cabeça das duas, simultaneamente): o que são afinal os guetos?... O que é a normalidade?...

Ao fim de duas horas desistimos e abandonámos o estádio (não, não consta que alguém tenha anunciado “Ladies and gentlemen Assumida Mente e Mente Assumida have left the building!")… A chuva tinha parado e a noite estava agora agradável… Lá em cima a “Cabra”, a nossa velha torre, sorria-nos… Parámos a meio da ponte de Santa Clara e ficámos ali a olhar a “nossa cidade”… Um postal… Um quadro… Uma obra-prima!
Esquecemos os guetos, o álcool e as diferenças e deixámo-nos ficar ali a acreditar que um dia todas as perguntas deixarão de ser retóricas… Enquanto comentávamos que não era preciso andar muito para compreender que Coimbra é, sem dúvida, a mais bonita cidade do mundo!



sexta-feira, 24 de outubro de 2003

Quero... 


Agradecer-te pelo dia de hoje... Pode não ter sido perfeito, tal como planeáramos, mas agora, que o escuro se colou às paredes do meu quarto e as recordações me assaltam em catadupa, sinto-me felizarda por ter tido o previlégio de estar contigo, ainda que por breves instantes, nestes tempos conturbados, indecisos, desesperantes. Obrigada.

quarta-feira, 22 de outubro de 2003

Conversa de café 


Hoje apetece-me escrever um post assumidamente pessoal!
Apetece-me falar sobre a vida do dia a dia com a mesma naturalidade com que o faria numa mesa de café, entre amigos e tostas mistas (ou meia torrada para as eternas devotas das dietas!).

Apetece-me falar sobre o meu dia de trabalho, tão esgotante quanto recompensante, porque "quem corre por gosto não cansa" e a cada dia que passa me apaixono mais por estas coisas da Justiça... E, a propósito disso apetecia-me abordar assuntos como o Segredo de Justiça (do qual discordo totalmente - um dia explicarei porquê), a Prisão Preventiva, todo o sistema judicial e mais a Casa Pia e tantos, tantos outros casos sobre os quais me apeteceria reflectir...

Apetece-me falar sobre "Dogville" o filme que anseio ver desde o dia da estreia, mas que, por manifesta falta de tempo ainda não pude ir espreitar... Por manifesta falta de tempo e porque a Mente Assumida está longe e já não faz sentido ir ao cinema sem ela... Não, sosseguem as mentes perversas, não é pelo "escuro do cinema", é mesmo porque poucas coisas na vida me sabem melhor do que sentarmo-nos numa mesa de café e discutirmos horas a fio as diferentes (porque são sempre diferentes!) perspectivas que temos do filme... e este promete, não fosse eu uma fã incondicional do von Trier... e ela nem por isso!

Apetece-me falar de livros... De todos os livros que ainda não li e que tenho obrigatoriamente que ler... Sempre fui uma devoradora de livros... ler, para mim, é algo de fí­sico: gosto do cheiro dos livros, gosto de sentir as páginas a deslizarem-nos pelos dedos ao ritmo da história e gosto das sensações que cada palavra, cada frase, cada linha, vão fazendo brotar em mim... Confesso que, fechado o livro, um ou dois meses depois ja não me lembro dos nomes das personagens, nem dos sítios... e só me lembrarei da história se realmente me tiver marcado particularmente... A Mente Assumida não é nada assim: absorve nos livros as lições que eles transmitem, vê em cada nova leitura um meio de enriquecimento intelectualizante... Talvez a maior parte das pessoas seja como ela...

Apetecia-me falar de um programa de rádio que me faz companhia em muitas horas de viagem e com o qual me divirto bastante: a "Prova Oral", passa na Antena 3 ao fim da tarde e tem sempre um tema de debate... não sei qual era o tema de debate de hoje - passei toda a viagem ao telefone com a Mente Assumida...

Também me apetecia falar sobre o facto de ter ficado preocupada com a Mente Assumida depois de ter desligado o telemóvel, porque hoje teve um dia difí­cil e os próximos não se afiguram mais fáceis... e aqui, à distância de quilómetros, é muito pouco o que posso fazer!

Apetecia-me ainda falar do calafrio no estômago que sinto sempre que, ao fim de dias como este, abro a porta de uma casa cada vez mais inóspita, onde as pessoas literalmente não se falam, com medo do que cada palavra possa trazer a reboque; onde tudo se sabe mas nada se diz... uma casa à qual apenas me prende a dependência financeira (maldito curso este que escolhi!)... e, confesso, um sentimento de afecto que me ficou provavelmente como reminiscência da infância!

É verdade, apetecia-me falar assim sobre a vida do dia-a-dia com a mesma naturalidade com que o faria numa mesa de café, entre amigos e tostas mistas (ou meia torrada para as eternas devotas das dietas!)... Mas agora reparo, se estivesse no café, entre os meus amigos hetero e as suas tostas mistas talvez não fosse muito prudente falar assim tanta vezes da Mente Assumida... Não é que eles não fossem "descomplexados" ao ponto de aceitar que eu, homossexual, me sentasse à mesma mesa que eles, mas, obviamente, teria que ser discreta... obviamente não poderia poluir o nosso café com a atmosfera gay que esta relação de vinte e nove meses transpira... Teria que ficar ali, sorridente, a ouvi-los falar das suas namoradas ou queridas esposas e das proezas dos seus filhos ou sobrinhos...
... Pois é, agora percebo porque é que deixei de ir tomar café com uma série de gente!

Agora me recordo também porque criámos este blog! Espero que quem nos lê goste destes intervalos para o café na nossa companhia!

terça-feira, 21 de outubro de 2003

Como disse? 


As saudades que eu tenho do “Acontece”! Gostava particularmente daquela parte em que aquela Senhora muito bem apessoada, cujo nome não me recordo (amor, ajuda-me com a tua memória prodigiosa!) nos vinha dar alguns esclarecimentos sobre a língua portuguesa. Deliciava-me, não sei porquê, aquele tom tão maternal quanto condescendente com que perguntava: “Como disse?” antes de corrigir o erro.

É pois, nesse mesmo tom que me apetece perguntar:
Como disse, Hugo Almeida?"


1. Disse que não tem “qualquer tipo de asco ou aversão a quem possui opções sexuais diferentes das suas”. Acaso escolheu a mulher por quem se apaixonou? Acaso consegue racionalizar o amor e os impulsos? Acredite, caro amigo, a homossexualidade não é uma opção! Não quero generalizar e por isso falo apenas do meu caso: comecei a sentir-me atraída por mulheres muito antes de conhecer o termo “homossexualidade” e as suas consequências. Não se escolhe ser homossexual, simplesmente nasce-se homossexual!

2.Disse que não considera os homossexuais “’seres inferiores’ ou, tão inferiores que não sejam passíveis de crítica”? Mas então em que ficamos? Quanto mede afinal a nossa inferioridade? Qual a medida afinal da nossa fobia pela igualdade? Ou até onde vai a tão negada homofobia?

3. Disse que “muito mais do que saírem do armário, está na hora de esquecerem que existe ‘O Armário’.”? O.k., está combinado. Nós esqueceremos que existe armário quando o meu caro amigo conseguir partir um braço e esquecer que lhe dói ou quando conseguir ouvir o mesmo insulto dez vezes por dia e não responder. Temos acordo?

4. Disse que não nega que nós carregamos “um fardo muito pesado, sobretudo num país bafiento como o nosso” mas que nos cabe a nós “mais do que ninguém, erguer a cabeça.”? E, no entanto, quando o fazemos, quando transformamos a homossexualidade no tema principal de um blog e tentamos discuti-la com toda a frontalidade e honestidade, o caro amigo critica-nos por “transpirarmos uma atmosfera gay” ou por estarmos a criar um gueto… Simplesmente porque estamos a fazer aquilo que nos diz para fazermos: erguer a cabeça e falarmos daquilo que é efectivamente o nosso dia-a-dia… E lamentamos informar, mas o nosso dia-a-dia passa inequivocamente por todas estas questões que aqui têm sido focadas!

5. Como disse? “Complexo de vítima”? “Comunidade fechada”? Caro amigo, acredite que por aqui o que menos há é gente complexada ou fechada! Aqui apenas falamos de factos e pontos de vista… E, como facilmente constatará pela leitura integral deste blog, aceitamos aqui todo o tipo de pontos de vista, todo o tipo de perspectivas. Podemos falar maioritariamente sobre a comunidade LGBT, mas fazemo-lo conscientemente, porque entendemos que é necessário um espaço de debate sobre o tema… No entanto, não confundamos as coisas: optar por um tema não significa, de modo algum, tratá-lo de um modo fechado, como bem compreenderá.

6. Disse que “no caso do blogue Assumidamente, dá vontade de perguntar, por alma de quem?” E sugere “’Timidamente Assumidas’”. Confesso que gostei da sugestão! Gosto de ironias!... Foi aliás esse gosto pela ironia que me levou a escolher este nome para o blog e para mim própria, sendo que, na assinatura decidi substituir o advérbio pela frase. Sim, porque caso não tenha reparado “Mente” é uma das formas do verbo mentir! Minto por alma de quem? Ó caro amigo, por alma de todos aqueles que não conseguem compreender para além da sua normalidade!

7. Disse que “não há queixa desses bloguers (aqueles que falam de outras sexualidades, heterossexualidades) de serem tratados de forma discriminatória.”? Realmente nunca tinha pensado nisso! Agora que reparo, verifico também que não há queixa dos casais hetero serem tratados de forma discriminatória... Será que isso apenas se deve ao facto de eles não serem efectivamente discriminados?... Será?

8. Finalmente disse: “há uma falta de naturalidade no assumir da sexualidade?” E eu pergunto-lhe haverá uma falta de naturalidade no assumir da sexualidade ou haverá uma falta de naturalidade na forma como essa assumpção é encarada por quem a ela assiste? Dê-me um só exemplo de falta de naturalidade em todo este blog e eu deixarei de pensar que o Hugo Almeida é apenas mais um heterossexual a quem a homossexualidade não incomoda desde que não se fale nela, desde que ela não se manifeste, desde que ela não se assuma… nem sequer na penumbra de um blog como este!

Em jeito de conclusão, não pense Hugo Almeida, que neste post vai algum género de quezília pessoal. Se aproveito os seus comentários para transmitir aqui algumas ideias é porque ouço aquilo que diz saído da boca da esmagadora maioria dos meus amigos heterossexuais diariamente e lamento profundamente toda essa convicção, como se conhecessem profundamente aquilo de que estão a falar!
Não caiamos numa das maiores falácias de todos os tempos: falar daquilo que não conhecemos! Escolhamos as palavras certas para dizermos aquilo que pensamos e, acima de tudo, informemo-nos sobre aquilo que pensamos antes de proferir qualquer tipo de juízo sobre o assunto!

E quase que me apetece voltar ao “Acontece” para dizer: “Assim se fala em bom português!”

Somewhere... 


Definitivamente a minha vida é um constante suceder de coincidências... Senão digam-me: quantas vezes já vos aconteceu ligarem o rádio e ouvirem assim, sem mais, uma música do West Side Story?... A mim aconteceu-me uma vez:hoje, pela manhã... E de tal modo a música mexeu comigo que ainda agora, que já estamos num novo dia, não consigo deixar de ouvi-la soar dentro de mim!
Chego a desconfiar se não terás sido tu a ditar a letra a Stephen Sondheim e a música a Leonard Bernstein, de tal modo esta música se assemelha a tudo aquilo que me disseste umas horas antes de a ouvir...
Seja como for, é impossivel ouvir uma música como esta e mantermo-nos pessimistas:

There's a place for us,
Somewhere a place for us.
Peace and quiet and open air
Wait for us
Somewhere.

There's a time for us,
Some day a time for us,
Time together with time to spare,
Time to learn, time to care,
Some day!

Somewhere.
We'll find a new way of living,
We'll find a way of forgiving
Somewhere . . .

There's a place for us,
A time and place for us.
Hold my hand and we're halfway there.
Hold my hand and I'll take you there
Somehow,
Some day,
Somewhere!

Em dias de desespero e angústia, como estes que por aqui se vivem, é bom sentir palavras como estas vindas de ti, é bom ouvir músicas assim... e é bom tambem sentir que laços se vão criando na blogosfera! Obrigada pela força de todos! Se não servir para mais nada, este blog serve para que nós, que simplesmente não nos podemos assumir, não nos sintamos totalmente alienígenas por aqui!

segunda-feira, 20 de outubro de 2003

Tréplica 


A propósito do que foi escrito num outro blog, escrevi o post «Orgulho Gay». Iniciei-o, precisamente, explicando que foi de comum acordo, mas tácito, que eu e a Assumidamente optámos por não nos debruçarmos sobre o que era afirmado em outros blogs. No entanto, por vezes, isso torna-se inevitável, pelo que, pela segunda vez desde o início da nossa assumida aventura na blogosfera, o faremos.
Para melhor se entender o que a seguir vai ser dito, leia-se, por favor, o que aqui foi escrito, com consequentes desenvolvimentos mais à frente, no referido blog.

Em jeito de tréplica, cá vai.

Diz o Hugo A. que «a condição "homossexual" não deveria ocupar em tempo algum a cabeça dos que o são. Deveria ser algo natural. Bem sei que assim não é e, o que constatei e aqui deixei escrito, foi a constante afirmação de uma sexualidade. Como se os próprios não estivessem convictos de si e tivessem que a todo momento de afirmar "sou homossexual".»
Pois bem. Ser homossexual não é para nós uma obsessão, é um facto. Ser lésbica é apenas uma das muitas características das nossas pessoas. Este blog não pretende (nunca pretendeu) ser uma afirmação de coisa nenhuma, muito menos da nossa sexualidade. Este espaço é uma ponte que construímos, post a post, entre nós e quem quiser ler-nos, independentemente da sua sexualidade. Afirmamo-nos, na descrição, como "um blog assumidamente lésbico", mas não exclusivamente lésbico. Quanto ao facto de parecer, ao Hugo A., que não estamos convictas de nós mesmas, motivo que nos levaria a afirmar repetidamente "sou homossexual", permitam-me que diga o seguinte: sempre estive certa daquilo que sentia, daquilo que o Hugo A. etiquetou de "condição homossexual", repito, sempre. Não tenho de o proclamar a cada instante, porque é algo intrínseco a mim. Escrevo num blog de temática lgbt, é certo. Mas não para meu auto-convencimento, longe disso; faço-o antes porque penso ser um blog um meio excelente para estabelecer contacto com outras pessoas, um meio para levantar um pouco o véu sobre o que sentem/vivem/pensam as lésbicas e os gays no seu dia-a-dia. Simplesmente, não me peçam, porque não podem pedir-mo, que desconsidere uma parte importantíssima de mim, que é a minha sexualidade e que, consequentemente, atravessa toda a minha vivência. Não preciso de gritar aos sete ventos que sou lésbica - é verdade. Mas porque haveria de escondê-lo, principalmente num meio como a blogosfera? Porque razão não poderei, ao menos aqui, abrir portas e deixar o pensamento voar, dizer o que penso, assumir uma perpectiva lésbica de alguns assuntos? Porque razão não poderei dedicar um blog, o meu blog, à homossexualidade? Será, porventura, um tema menos legítimo para ser abordado nestas paragens?

Refere-se ainda o Hugo A. ao facto de constituir uma ironia assinarmos sob a forma de pseudónimos num blog que tem por título "Assumidamente". Mas é precisamente por isso, porque entendemos que, ao menos aqui, podemos assumir aquilo que não podemos assumir noutras circunstâncias, que está presente essa ironia. Mas uma mais descarada ironia me parece, e esta do destino (?), que alguém que, como eu, não revela a ninguém a sua homossexualidade, frequenta exclusivamente espaços heterossexuais, tem amigos maioritariamente heterossexuais [e quanto aos que são gays, os assuntos discutidos não passam por esse facto], é sempre tomada por heterossexual (refiro-me tanto ao assédio, como aos diálogos que as pessoas mantém comigo, enfim, penso que me faço entender), seja indiciada, na internet, a propósito de um blog, um simples blog, como alguém que não está segura de si, alguém que tem de repetir incessantemente que é homossexual!

Fala também, o Hugo A., no seu post, acerca de uma pretensa "atmosfera gay" que se respira nos nossos blogs (referiu-se especificamente ao T2 com varanda e ao Casal Gay). Ora, mais uma vez, posso constatar que a diferença incomoda. Seria esta tal "atmosfera gay" criada pelo facto de, entre nós, nos linkarmos uns aos outros, o que daria uma ideia de ghetto gay na blogosfera. Nada de mais hilariante! Simplesmente, se o nosso blog foca um dos inúmeros aspectos da nossa vida - e fá-lo porque o pode fazer, aqui, uma vez mais, assumidamente - não me parece de estranhar que, no direito de opção que temos no que a tal concerne, nos tenhamos limitado a linkar blogs escritos por lésbicas e gays, assumidos ou não! Não passe, no entanto, pela cabeça dos nossos leitores, a não ser apenas - porque de outra forma não se compreende - a título de ingenuidade, que isso quer revelar que estamos fechadas aos comentários seja de quem for, lgbt ou não, nem que nos limitamos a ler os blogs linkados! Simplesmente, optamos, porque podemos e devemos fazê-lo, no exercício de um direito, digamos, de gestão do nosso espaço, por linkar apenas estes blogs - até ver, porque nunca desconsideramos a hipótese de deixar de ser assim! Questiona-se, a este propósito, o Hugo A.: «Foram a isso obrigados?». Não, meu caro Hugo, tal como não somos obrigados a seguir o rebanho da blogosfera e linkar os blogs que a esmagadora maioria dos bloguistas - para não arriscar totalidade, porque detesto generalizar - linka, não lhe parece?! Leio bastantes blogs, dentro da minha disponibilidade, e já pude constatar que muitos bloguistas linkam apenas blogs que poderíamos agrupar numa determinada categoria, por exemplo, "meninas", "meninos", "humor", "informação", "sociedade", etc.. Ora, nunca, por um instante sequer, me passou pela cabeça, que isso fosse reflexo de que aquelas pessoas se limitavam a consultar aqueles blogs, criando uma atmosfera "feminista", "machista", "humorística", etc. fechada ou, para citar o Hugo A., «mais do que predominante, quase exclusiva» nos seus blogs!

A terminar o seu post, o Hugo A. afirma: «Por fim, não queria deixar ninguém triste, mas continuo a achar que os homosexuais têm uma quota parte de responsabilidade na segregação a que estão sujeitos.»
Quanto às minhas considerações pessoais sobre isto, penso que já muito foi sendo dito ao longo da existência deste blog. No entanto, não posso deixar de dizer também, sob pena de desonestidade intelectual, que julgo que tudo isto seria evitado se aquilo que pode ser mudado o fosse. Não nos peçam para deixarmos de ser homossexuais, porque tal não é uma opção, mas, por favor, deixem de nos apontar o dedo, de nos discriminar de tantas e tantas formas, como o vêm fazendo há séculos, a começar, por exemplo, por não verem no aparecimento e proliferação de blogs de temática lgbt, a hipótese de, até na blogosfera, nos empurrarem para, cito novamente uma expressão da autoria do Hugo A. - profundamente ofensiva, considero - "nichos gay".
São esses olhares científicos, como pretende ser o deste bloguista - e que o leva a afirmar perólas como esta :«Esta semana foi feita uma análise aos blogues homossexuais [...]. Os resultados da análise ditaram um aspecto saudável das colónias, mas acusaram também o isolamento das mesmas em nichos gay.» - que são entraves à vida dos homossexuais. Um blog assumidamente lésbico merece esta conclusão brilhante: «isolamento em nichos»... será que o mesmo aconteceria com um blog assumidamente benfiquista, assumidamente comunista, assumidamente literário, assumidamente científico? Estou certa que não. E vocês?

domingo, 19 de outubro de 2003

Assumida Mente... até quando? 


Há quem diga que é próprio da juventude, há quem diga que advém de uma propensão natural para o optimismo, a verdade é que, na grande maioria dos dias, acordo sempre com a vontade de abrir a janela e de olhar bem longe, para além da minha vida, da minha cidade ou do meu país! Nesses dias apetece-me discutir as grandes questões da humanidade, com o fervor de quem sente que pode mudar o mundo, e falo das notícias dos jornais, de política, prostituição, Casa Pia e avanços científicos...

Há dias, porém, em que não é assim, em que, ou por força das circunstâncias, ou por outra força qualquer cuja origem não consegui ainda descortinar, fecho a janela, a porta e o mundo e não consigo estender a visão para além do meu umbigo... Em dias como esses... em dias como este... não consigo generalizar nem abstrair, sou tão básica quanto é básica a concretude da vida de cada um de nós... e as únicas coisas sobre as quais consigo escrever é esta pergunta que me invade, me sufoca e me corrói:

- Onde acaba o meu dever de não desgostar/desiludir os meus pais e começa o meu direito à felicidade?

O ar torna-se cada vez mais sufocante e, cada dia que passa, mais impossível viver sem optar!
Tenho pânico da espada... mas não sobreviverei à parede!


sexta-feira, 17 de outubro de 2003

Prostituição: discutamo-la então! 


Gosto de desafios e de provocações (das intelectuais mais do que de quaisquer outras), por isso não podia deixar de responder com um novo post aos comentários suscitados em reacção ao “repto aos activistas” que aqui deixei no passado domingo!
Desafia-nos a Anabela Rocha , num comentário a esse post, a discutirmos abertamente a prostituição, a pormos o dedo na ferida e a “enfrentarmos o touro de frente”. Façamo-lo então, ponto por ponto e com a seriedade que os assuntos sérios nos merecem!

Analisemos os factos:

1. A prostituição existe!

2. A prostituição existe organizada de muitas e variadas formas, para satisfazer todos os gostos e feitios.

3. Há imensa gente, pessoas de todos os quadrantes da nossa sociedade, conhecidos e desconhecidos, gordos e magros, ricos e pobres, homo e heterossexuais que recorrem diariamente à prostituição, em todos esses diferentes moldes em que ela se organiza.

4. Existem também imensas pessoas e, entre elas, homossexuais que não recorrem à prostituição ponto!

Estes factos são simplesmente incontornáveis e irrefutáveis. O mesmo não será possível dizer dos juízos de valor que se seguem, tão pessoais quanto o são todos os pensamentos, todas as convicções, todos os princípios! Em relação a eles, admito que haja opiniões em contrário, vozes discordantes, pessoas que se insurjam. Admito até repensar os meus pontos de vista se os argumentos forem fortes, sérios e suficientemente esclarecidos para me demover dos meus “chavões”. Enquanto assim não for aqui vai o que penso sobre a prostituição:

1.
O primeiro juízo que faço é um não juízo, isto é, se pensavam ver-me aqui a fazer discursos moralizantes contra a prostituição, lamento desiludi-los… Se esperavam o contrário, menos desiludidos não vão!...
A prostituição é nada mais nada menos do que a procura do sexo pelo sexo (por parte de quem a ela recorre) ou do sexo pelo dinheiro (por parte de quem a pratica… com mais ou menos “sacrifício”, não vou, porque não quero, especular sobre isso agora!)... Seja como for, a questão acaba por se reconduzir sempre a uma ideia única: o sexo… E o sexo de cada um a cada um diz respeito… Todos nós somos livres para praticarmos sexo com quem quisermos, como quisermos, onde quisermos, desde que não desrespeitemos ninguém, não ofendamos ninguém e não provoquemos ninguém!
Por isso, recuso-me a fazer qualquer tipo de discurso moralizante sobre a prostituição. Se há quem a ela recorra com prazer, tudo bem, se há quem a ela se dedique por necessidade, menos bem… mas não deixa de ser uma opção (porque aqui sim estamos perante opções, e difícil será convencerem-me do contrário!) de vida de cada um… há que arcar com as consequências dessa opção!

2.
O segundo juízo é um sim! Sim à legalização da prostituição!
Sim à legalização da prostituição porque a função da lei, a função do direito, é regular o que existe na sociedade (“ubi societas ibi ius” – aprendamos com os antigos!) e na sociedade existem efectivamente centenas (milhares?!) de homens e mulheres que todas as noites (e dias!) saem à rua para vender o seu corpo e fazem-no à vista de toda a gente, sob o olhar dos mais ardilosos criminosos e das mais pueris crianças, em condições de higiene e saúde que nos transportam para o tempo dos nossos medievos antepassados, fazendo circular com eles uma boa quantia de dinheiro que é “fantasma” aos olhos do Estado!
Sou a favor da legalização da prostituição porque o direito não pode fechar os olhos a uma realidade tão evidente. Sou a favor da legalização da prostituição porque ao direito não cabe moralizar, mas apenas definir regras para o que existe, para que toda a sociedade possa conviver em harmonia, sem que a liberdade das pessoas de fazerem dos seus corpos e do seu dinheiro o que bem entenderem não colida com a minha liberdade de passear por determinadas ruas, a determinadas horas, sem ser tomada por prostituta!
Sou a favor da legalização da prostituição porque estou cansada de assistir diariamente aos deprimentes negócios de esquina de rua entre o velhote do café e a mulher (uma das!) do porteiro, não raras vezes terminados em desacatos que lá obrigam à intervenção de um “complacente” agente da autoridade... Porque acho sinceramente degradante passear pela noite e ver as ruas da minha cidade transformadas em montras de corpos, como se mais nada fosse possível no mundo do que a procura solitária (ou não) de um prazer rápido e volátil…
Sou a favor da legalização da prostituição porque não acredito que ela contribua para um aumento dos números da prostituição no nosso pais, mas antes acredito que possa contribuir para o melhor conhecimento da dimensão de uma realidade que salta à vista de todos nós e que apenas o direito insiste em ignorar!
Sou a favor da legalização da prostituição em nome da saúde pública, em nome de um rastreio às prostitutas e prostitutos do nosso país, porque as doenças sexualmente transmissíveis existem e urge impor regras de despistagem de tais doenças num mundo como o da prostituição onde elas facilmente se alastram.
Sou, finalmente, a favor da legalização da prostituição porque não consigo nem posso pactuar com o branqueamento de capital que a prostituição significa. Há verdadeiras fortunas em torno da prostituição... E bem sei que nem sempre são as prostitutas quem fica com a maior fatia desse bolo… Pois bem, chega de ver pessoas a transbordarem de dinheiro apresentarem-se como desempregados, candidatos a tudo o que é subsídios e fundos do Estado e muito pobrezinhos! Que a prostituição existe é um facto incontornável e intemporal, pois bem, então que as prostitutas, os prostitutos e quem à sua custa vive declarem os seus rendimentos e paguem os devidos impostos!

3.
Reconheço, portanto, que a prostituição existe; demito-me de um discurso moralizador e defendo a sua legalização, agora o que não posso, por princípio e convicção, admitir é que a prostituição se promova! E muito menos posso admitir que se promova a prostituição homossexual!
Normalmente não gosto de repetir ideias que escrevi em posts anteriores, mas porque acredito mesmo que a questão é crucial, aqui vão pontos dentro dos pontos: sou total e radicalmente contra a promoção da prostituição homossexual porque:
3.1. Homossexualismo é, para uma grande maioria da nossa sociedade, sinónimo de promiscuidade.
3.2. É impossível não associar à prostituição a noção de promiscuidade.
3.3. Promover a prostituição homossexual é simplesmente vir oferecer de mão beijada à sociedade argumentos a favor da ideia de que a comunidade gay não passa de uma comunidade sexualmente libertina e irresponsável, numa palavra, promíscua!
3.4. Regressando à frase que deu causa a toda esta discussão dizer-se que se “fica bem servido” com uma prostituta é inequivocamente promoção da prostituição e está já muito longe do que poderiam ser os limites da mera informação jornalística!
3.5. E se já condeno a promoção da prostituição em geral, mais o condeno ainda quando tal promoção é efectuada por alguém que é presidente de uma Associação Gay, e que o é sempre que surge em público, porque mesmo que se afirme como independente, o seu nome nunca deixará de ser associado ao cargo que desempenha e à responsabilidade que pesa sobre os seus ombros de representar centenas de homossexuais!

4.
Ainda em jeito de resposta à Anabela Rocha, saiba que é precisamente por não esquecer que os corpos que existem por trás da prostituição têm um nome, sentimentos e uma dignidade irrefutável que considero a prostituição um assunto sério e um problema premente da nossa sociedade!
Mas é também porque gostaria que ninguém se esquecesse que, por trás da grande maioria de homossexuais não assumidos existem nomes, sentimentos e vivências tão distantes da prostituição, que me agradaria ver quem dá a cara em nome de todos nós ser cauteloso com a imagem que faz passar do que é a comunidade gay! É quase um S.O.S. este que vos envio do fundo desta penumbra!

E já agora aqui vai outro repto a quem me lê: informem-me por favor, que começo a temer pecar por excesso de ingenuidade: não somos só nós, eu e a Mente Assumida, o único casal homossexual a acreditar em relações duradouras, de felicidade e fidelidade, pois não? Não somos só nós que achamos que cultura gay pode ser muito mais do que bares onde “drag queens” (sem desprimores para as ditas, fique desde já salvaguardado!) se expõem durante noites a fio, enquanto pessoas solitárias tentam a sua sorte em engates muito pouco subtis, pois não? Confesso que temo desiludir-me com as respostas!


quarta-feira, 15 de outubro de 2003

Leucemia: e a ajuda aqui tão perto! 


Foi hoje o dia em que conheci a morte!... Hoje, dia 15 de Outubro de um ano, que, apesar de já lá ir, a memória jamais apagará…
A notícia da morte veio de rompante, como de rompante veio a notícia da doença: “o tio está com cancro”… “o tio morreu”… Assim, tudo de repente, sem que alguém pudesse fazer alguma coisa, sem que alguém tivesse tempo de perceber alguma coisa.

É impossível assistirmos à morte de alguém que nos é próximo e nada mudar dentro de nós. A morte aproxima-nos da vida, faz-nos amar com mais força, viver com mais entusiasmo e relativizar todos os males, porque percebemos que os dias não são eternos e as horas são demasiado escassas para que as desperdicemos com problematizações…
Além disso, a morte aproxima-nos das pessoas: das que morrem, na memória que não se apaga e das que vivem, no desejo de que vivam o mais e o melhor possível.
Aumenta também em nós o desejo de agir, de ajudar, de tentar compreender o que podemos fazer para que não volte a acontecer algo igual, tão de repente, tão incompreensivelmente…

… Faz hoje anos que o meu tio morreu de cancro. Coincidência ou não (a Margarida Rebelo Pinto diria que não!) é hoje o dia em que a blogosfera, por iniciativa da Ana Anes, se une numa corrente de solidariedade por todos aqueles (e pode mesmo ser qualquer um de nós) que são afectados por um tipo de cancro específico: a leucemia.

Confesso que não costumo acreditar em correntes de solidariedade do estilo: vista branco por Timor, acenda uma vela pelo Iraque ou escreva um texto sobre não sei o quê… Mas desta vez, se não serviu para mais nada, esta corrente serviu para que eu descobrisse que há casos em que sim, efectivamente, podemos fazer alguma coisa! Serviu para que eu compreendesse como é tão simples, doando um pouco de nós, doarmos uma vida nova!
Afinal, não custa nada e pode valer tanto!

P.S. - A nossa pequena "discussão" do post anterior continuará dentro de momentos!


domingo, 12 de outubro de 2003

Assumidamente um repto aos activistas! 


As 21h já quase davam lugar às 22h quando finalmente entrei no carro para voltar a casa depois de mais um dia de trabalho estafante. Tirei o casaco do fato, troquei as botas de salto alto por uns sapatinhos de vela bem baixos e confortáveis e ali estava eu, de novo, a poder ser eu própria por uns instantes (pelo menos nos três quartos de hora que me esperavam de viagem até casa). Liguei o carro e, quando me preparava para telefonar a quem vocês bem sabem, do rádio que se ligou automaticamente com o carro saiu a voz do António Serzedelo. Pois é, era quarta-feira, dia de “Vidas Alternativas” e estava precisamente naquela hora impar em que a “comunidade gay” pode ouvir o seu eco do lado de lá da rádio. Atrasei o telefonema e deixei-me ficar a ouvir.
Como convidada do programa estava presente uma transsexual que, entre outras actividades, “ganhava a vida” (desculpem mas não encontro uma forma mais simpática de o dizer) perto do Parque Eduardo VII a “negociar” com quem por lá parava.
Até aqui tudo bem. Não sou ingénua ao ponto de acreditar que na nossa comunidade homossexual as pessoas são todas “straight” (!!!), que os casais homossexuais são todos muito fiéis uns aos outros, que as relações duram todas eternidades, que não existem homossexuais a prostituir-se e que, muito menos existem homossexuais que recorram à prostituição; nem sou de tal modo hipócrita que defenda que as coisas deveriam ser assim. Aliás, nem sequer sou tão ignorante que não queira saber! Gosto de me manter informada e de conhecer o mundo para além da minha janela. Por isso deixei-me estar ali, com a rádio ligada e o “Vidas Alternativas” no ar, enquanto os quilómetros passavam.
Ouvi a convidada falar da sua vida e do que fazia, ouvi e até achei interessante. Não gostei foi de ouvir o António Serzedelo, já com o programa quase no fim a afirmar: “já sabem, se quiserem conhecer a Senhora X, podem encontrá-la todas as noites perto do Parque Eduardo VII e com 30 a 60 euros ficam bem servidos tanto no activo como no passivo”.
Ainda pensei que fosse do cansaço e que tivesse ouvido mal. Mas, do outro lado do telefone (que falta me fazes do lado de cá!) a Mente Assumida confirmou-me que foi mesmo isso que ouvi… E, ainda que saiba que corro o risco de ser apelidada de intolerante ou mesmo reaccionária (que é sempre uma palavra que fica muito bem a quem quer parecer revolucionário!) não posso deixar de expressar aqui a minha indignação.

Todos sabemos que a prostituição existe e não é menos verdade que ela exista entre nós homossexuais. Mas será que há mesmo necessidade de promovê-la assim? Sinceramente penso que não. Aliás, penso que não só não há necessidade como é muito grave fazê-lo. E muito mais grave me parece tal promoção quando ela é feita por um presidente de uma associação homossexual, como é o caso!

Sobre as associações homossexuais recai o peso enorme da responsabilidade da representação de uma massa, na sua maioria anónima e silenciosa, que, por não se poder expressar (e que pena tenho eu de o meu anonimato, imposto pela sociedade, me impedir de abraçar esta causa de um modo mais activo!), merece uma protecção especial dos seus direitos. E essa protecção especial só pode ser conseguida por aqueles que, dando corajosamente a cara por essa massa, os consigam conquistar!
Assim sendo, tudo o que dizem e fazem os membros dessas associações, e especialmente os seus presidentes, tem repercursões enormes na sociedade, porque são eles a imagem dos homossexuais. É à sua cara, à sua voz e ao seu comportamento que o público associa o homossexualismo.
É óbvio que não se exige destas pessoas, tão humanas como todas as outras, que se dediquem a uma vida de “sacerdócio”, sem qualquer mácula ou “pecado”. Longe disso, têm todo o direito de viverem as suas vidas como bem querem e lhes apetece e de dizerem o que muito bem entenderem. Mas não podem deixar de ter a consciência de que é para eles que os holofotes estão virados e que tudo o que disserem e fizerem em público terá eco na construção das mentalidades que tanto precisamos de ver mudadas.
Todos sabemos que, quer queiramos quer não, a imagem que a sociedade tem dos homossexuais é ainda, na sua grande maioria, negativa e pejorativa. Quer queiramos quer não, para a grande maioria das pessoas, homossexualismo é ainda sinónimo de promiscuidade e perversão e os homossexuais não passam ainda de “grandes bichas malucas” ou de “camionistas com falta de peso” (sim, eu sei, é muito baixo, mas acreditem que o ouço dizer muitas vezes, em muitos meios e nas mais variadas circunstâncias!).
Ora, se queremos combater essa imagem temos que fazer tudo menos alimentá-la. É óbvio que há prostituição homossexual, é óbvio que existe muita gente que vai para os bares gay tentar engatar… Assim como também há heteros que o fazem! Mas isso não é preciso estar a dizer e a promover, porque já toda a gente sabe!
O que muita gente não sabe ainda é o que é o dia a dia de um homossexual, como pensa um homossexual, o que fazem de bom na sociedade os homossexuais… o que muita gente não sabe ainda é que ser homossexual é ser em tudo igual a um hetero, menos no facto de ter que conviver diariamente com um preconceito.
Bem sei que as associações homossexuais (cujo trabalho muito respeito e admiro, como já aqui o afirmei) têm promovido debates, conferências, sessões de esclarecimento sobre o assunto. Muitos e bons, com o senão de serem, na sua maioria, em Lisboa e não conseguirem chegar ao grande público (mas pelo menos enquanto se fazem vão-se abrindo as consciências).
O problema é que educar custa e demora. Inculcar valores numa sociedade leva muito tempo. É um trabalho paulatino e, imagino, quantas vezes, ingrato e inglório. Pelo contrário, os preconceitos são vorazes e sugam tudo aquilo que seja susceptível de alimentá-los, como a frase infeliz de António Serzedelo na última quarta-feira!... Imaginemos que do outro lado até estaria alguém cujo filho é homossexual e estivesse a tentar perceber como funcionaria o seu mundo… O que iria pensar?... Acreditem, por muito boa vontade que as pessoas tenham em perceber-nos há um preconceito de séculos a combater e em cujo estereotipo não nos podemos deixar cair!
Não sei se este meu repto vai ou não cair em saco roto, mas gostava de lançar daqui o apelo a todos os homossexuais que corajosamente se apresentam como representantes da nossa comunidade: ponderem cada gesto e cada frase proferida em público, a evolução das mentalidades depende muito daquilo que fizerem e transmitirem!
Eu aqui fico a observar-vos, infelizmente na penumbra de um blog… até ver!


quarta-feira, 8 de outubro de 2003

Estudos (in)conclusivos?! 

Estudos (in)conclusivos…
Recebi hoje a minha revista SOS Saúde+Estilo de Vida de Agosto de 2003 (!). Foi com algum espanto que, na página dezasseis, li o seguinte:

Dá para acreditar?
As lésbicas têm propensão para sofrer de problemas de esterilidade e um risco acrescido de obesidade. Segundo uma perita em fertilidade da London Women’s Clinic, um problema ovárico causado por um desequilíbrio hormonal é a explicação para a infertilidade. Em relação à obesidade, nenhuma explicação foi adiantada.


Está bem, abelha! Ou então não, ou então não!...


terça-feira, 7 de outubro de 2003

Especially for you... 

O que mais posso dizer?
Partilho a vida contigo, meu amor...
E também esse desejo, de ter um bébé nosso!
Ele há-de nascer, estou certa!
E vai ser lindo... como tu!


quinta-feira, 2 de outubro de 2003

Um milagre chamado Vida! 


A vida tem destas coisas... Um dia, depois de desmitificados todos os sonhos que a vida de estudante nos reservaria, vemo-nos lançados "às feras", que é como quem diz ao sobrelotado mercado da mão-de-obra qualificada, e, sem trabalho, sem dinheiro e sem perspectivas, dizemos mal dos nossos dias, do mundo e do governo (por esta mesma ordem - porque o governo tem que ser sempre o mais culpado, claro está!)... Dois dias depois, sem que dêmos por isso, já nos metemos em tanta coisa que as horas não chegam sequer para respirar (ainda que os proveitos financeiros não acompanhem de modo algum esse afã... mas isso seria um outro long post!)...

... E é assim que de repente me vejo a trabalhar catorze horas por dia, sem tempo para descansar, para me divertir, para ler, pensar na vida... namorar... ... ... ... ... ... ... ... ... ... (e mais reticências se impõem porque é impossível dizer o quanto pesa esta distância a que a vida nos obriga, M.!)...
... E sem tempo também para vir à net, dar uns passeios pela blogosfera e escrever alguma coisa por aqui.

Hoje, no entanto, consegui cinco minutinhos para vir até cá e, por intermédio da Anabela Rocha, deparei-me com um blog que conseguiu comover-me até às lágrimas. Falo do Grávido pela primeira vez, um blog onde um casal vai deixando notícias diárias sobre a gravidez daquela que será a sua primeira filha!

Nunca consigo deixar de me comover com uma gravidez.... Uma gravidez, a concepção de um filho é talvez dos maiores milagres que acontecem à face da Terra!... Ou haverá maior milagre do que aquele através do qual o Amor se converte em vida, dando lugar a um ser humano que é a osmose de duas pessoas que se amam e se transformam, por intermédio daquele filho, numa só? (Ok, tudo isto, claro está, nos casos - cada vez mais raros?! - em que os filhos são efectivamente fruto do desejo pensado e planeado no seio de uma relação de amor!)

É, sem dúvida, comovente ver num bébé os olhos de um progenitor e o nariz de outro, os caracóis da avó materna e os lábios da avó paterna, o sorriso da tia e os dedos do avô!... Comovente...
... Tão comovente que não consigo deixar de olhar para um recém-nascido sem pensar o quanto desejava também eu, um dia, poder aconchegar no meu útero um "milagre" com os olhos, o nariz, as mãos, a voz, os caracóis e... tanta tanta outra coisa da Mente Assumida!...
Sim, confesso aqui, assumidamente: um dos meus maiores sonhos seria, sem dúvida, ser mãe... E, no entanto, não concebo sequer a ideia de ter um filho que não seja o fruto desta relação tão perfeita que só não é perfeita para não cair na imperfeição de ser monótona!...
Talvez seja este um dos únicos aspectos em que encaro os meus amigos heterossexuais com uma certa inveja: como queria, como eles, poder um dia também eu criar um blog com a Mente Assumida, de seu título "grávidas pela primeira vez!"... Imagino-nos a nós, aos três, juntos na sala de uma casa que ainda não temos a rir-mo-nos com os seus primeiros passos, as suas primeiras palavras... os seus primeiros sorrisos...

... E não consigo deixar de me comover só com a ideia... da impossibilidade absoluta da concretização deste sonho!... :-(

Somos altos, baixos, magros, gordinhos, extrovertidos, introvertidos, religiosos, ateus, conservadores, liberais, ricos, pobres, famosos, comuns, brancos, negros... Só uma diferença : amamos pessoas do mesmo sexo. Campanha Digital contra o Preconceito a Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros. O Respeito ao Próximo em Primeiro Lugar. Copyright: v.


      
Marriage is love.


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